Ficção/ Parte 1
Era março de 2000. Eu fazia 23 anos. A cantora que eu mais ouvia naquele quarto caótico e sensível, como eu era aos meus recém-chegados 23 anos, era um vinil de Ella Fitzgerald, ao som de uma vitrola da década de 50, garimpada na feira da Benedito Calixto, em uma de minhas idas à sampa. Eu amava jazz, os clássicos, as cantoras negras com vozes divinas que me levavam ao êxtase. Eu não queria estar ali. Queria estar vivendo em Berlim, onde tudo acontecia, livre, sendo eu, experimentando a vida com toda a minha liberdade e coragem. Eu queria sentir a vida, com toda sua intensidade, nas minhas entranhas mais profundas. Queria sentir todo amor do mundo, eu precisava me sentir viva. Tinha acabado de assistir o filme "Corra Lola, Corra", um filme alemão recém-lançado na época e estava alucinada com a protagonista Lola, me identificava com ela. Lola sabia o que queria e gostava de ser ela mesma. Estava enlouquecida de amor. Tinha se envolvido inteiramente. De corpo, alma, mente e espírito. Era daqueles amores avassaladores, que nos tira do eixo, que nos impulsiona a fazer loucuras e, que ao mesmo tempo, nos paralisa.
Continua…